“Essa é a minha primeira vilã de verdade”, avisa Arlete Salles, se referindo à Zenilda, personagem que interpreta em “Sabor da Paixão”, trama de Ana Maria Moretzsohn. Do alto de sua experiência de 34 novelas, a atriz assume que, pela primeira vez, está na pele de uma maquiavélica personagem sem escrúpulos. Pior: sem os paliativos do humor. Nada de frases hilariantes como “poupe-me dos detalhes sórdidos”, bordão de sua impagável Augusta Eugência, a falida tresloucada de “Porto dos Milagres”, de Aguinaldo Silva. Agora, como a milionária dona da vinícola Paixão, situada numa bucólica quinta às margens do Rio D’Ouro, em Portugal, sua personagem não pensa duas vezes quando tem de pisar em alguém para defender com “uvas e dentes” suas terras. “Ela ama e odeia intensamente. Pisa em tudo e em todos sem pestanejar”, constata.
A primeira a ser pisoteada como uva pela lambisgóia é Diana, personagem de Letícia Spiller. Depois que Zenilda descobre que Diana é a herdeira das terras onde estão plantadas as vinícolas e, ainda por cima, está namorando seu filho Alexandre Paixão, a vilã não mede esforços para tentar destruir a moçoila. Isso porque Diana pisa em seus calos duas vezes: além de querer recuperar as terras de sua família, conquista o coração do mimado filho único da megera. “Zenilda é uma mãe muito possessiva. Quer que Alexandre viva da maneira que ela acha melhor”, defende.
Mas tanto maniqueísmo emocional pode acabar afastando mãe e filho. Ao descobrir as tramóias de sua mãe para afastá-lo de Diana, Alexandre começa a tentar se libertar da sufocante proteção materna. Mas a ricaça não cai do salto. Arlete, que a define como a mais chique de todas as suas personagens, em nenhum momento chega a fazer escândalos ou alterar a voz quando se depara com o inimigo. “Já a Augusta Eugênia era inconseqüente. Essa é objetiva e só pensa no seu bem-estar”, afirma a atriz.
Mesmo sempre fazendo questão de comparar as duas personagens, Arlete entrega que sua maior dificuldade inicial na composição de Zenilda - além da falta de humor - era se livrar do “fantasma” de Augusta Eugênia. Tanto que, mesmo com toda a sua bagagem de 34 anos de carreira na tevê, a atriz pernambucana ainda policiava os gestos de Zenilda no início das gravações para que o público não a confundisse com a personagem de “Porto dos Milagres”. “Não sabia se estava no caminho certo. Até porque a insegurança faz parte da natureza do ator”, assume.
E, como de insegura Zenilda não tem nada, a malvada nem se importa de amassar pessoalmente algumas uvas de vez em quando. Mas isso só acontece quando ela se atraca pelos vinhedos com José Carlos - vivido por Tuca Andrada -, seu cúmplice de tramóias e amante nas horas vagas. A praticidade de Zenilda a faz bem descomplicada. Nada melhor do que um capataz como servo sexual, já que o seu maior prazer é realmente dar ordens. “É uma relação de ódio e amor entre os dois. Tudo é muito quente, mas ela não admite gostar dele de outra forma. É só sexo”, garante.
Apesar de tanta dureza, Arlete parece encontrar alguma poesia em Zenilda, nem que seja na hora da degustação de um bom vinho. Aliás, é preciso um mínimo de sensibilidade para apreciar o cultivo de uma boa uva e transformá-la num vinho “encorpado, delicado e com perfume duradouro”, como são as safras da fictícia vinícola paixão, segundo a atriz. “Um sommelier falando de vinho parece que está falando de um ser humano. Isso enebria a alma”, filosofa.
Fonte: UOL
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