segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Victor Dzenk lança camiseta para o Outubro Rosa



Victor Dzenk lançou, nessa quarta-feira (16/10), sua versão 2013 da camiseta criada para a Fundação Laço Rosa. O evento, na loja do estilista mineiro em Ipanema, foi parte da programação do movimento internacional “Outubro Rosa”, o mês de conscientização sobre o câncer de mama. Toda a renda levantada com a venda das camisetas será revertida para o Banco de Perucas Online, projeto em favor de pacientes em tratamento de quimioterapia.

Fonte: Lu Lacerda

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

'Ator Sem Papel': entrevista com Arlete Salles

* Por Pedro Medina
SRZD inicia, nesta quarta-feira, a série "Ator Sem Papel", em que entrevista atores consagrados sobre a arte de atuar. Arlete Salles é a primeira entrevistada. Pernambucana de Paudalho, ela começou a carreira como radialista no Recife. Depois de integrar a companhia teatral de Barreto Júnior se mudou para o Rio de Janeiro, casada com o ator Lucio Mauro, para trabalhar na extinta "TV Tupi". Depois foi para a "TV Globo", de onde só saiu uma vez, para a também extinta "TV Manchete", retornando à "Globo" logo em seguida. Hoje acumula mais de 50 anos de uma carreira brilhante dedicada à televisão, ao teatro e à comédia. 
Após uma breve explicação sobre o que é o "Ator Sem Papel", Arlete diz: "A ideia é bonita. (…) As coisas batem diferente em cada pessoa, né? Dependendo do sentimento, do sentido ético, estético. Em relação à vida, às relações humanas e, evidentemente, à profissão. Porque a profissão da pessoa, junto com a família, é o seguimento mais importante da vida. Eu gosto muito da frase: 'A profissão do homem é a sua missão na Terra'. É triste quando o homem não consegue cumprir a sua missão na Terra. Eu tive a sorte de poder cumprir a minha, de estar cumprindo a minha missão, que é o meu ofício. Vamos lá!"
- Você…
Arlete Salles. Foto: DivulgaçãoArlete SallesEu não sei se eu estou cumprindo (a minha missão) como deveria ou como eu gostaria. Eu sei de pessoas mais corajosas, mais impetuosas profissionalmente, mais empreendedoras. Eu tenho… Inveja não, porque eu sempre procurei me distanciar muito desse sentimento, se eu me flagro invejando, eu logo me chamo atenção, "que isso, que coisa feia". A gente inveja um cabelo, um corpo bonito mas são pensamentos fugazes, rápidos, não é inveja mesmo. Mas eu tenho uma pontinha de inveja, mais admiração, por colegas mais empreendedores, como, por exemplo, Marieta (Severo) e Andréa (Beltrão). Eu olho pra elas com muita admiração, elas não se conformaram com o que elas tinham, que já era muito bom. Elas são atrizes de primeira linha, super talentosas, bem colocadas no mercado, respeitadas, poderiam ter ficado satisfeitas com isso, já estaria de bom tamanho. Não. Elas foram em busca de mais, construíram um teatro (Poeira), montam espetáculos, tem uma inquietação profissional bonita. Isso eu acho que ficou faltando no meu temperamento profissional. E acho até como intérprete também. Nesse momento da minha vida eu não posso esconder de mim que eu tenho bastante idade e bastante tempo de profissão, eu não posso negar embora seja um fato que não me agrade muito, eu não lido bem com a idade. Mas não posso deixar de admitir que eu tenho um futuro como espectadora, trabalhando menos, menos ativa. O próprio tempo se encarrega disso, de nos afastar, o corpo pede, a mente pede um pouco mais, como o cantor Lenine diz, de calma. Isso vai chegar em algum momento e esse momento não está longe. A minha preocupação é que faltou o "dó de peito", faltou o "salto tríplice", faltou o grande desafio profissional. Mas talvez, eu fico pensando, não será só um pensamento meu? Uma melancolia profissional minha? Ou isso é inerente a todos os atores? Mesmo eu não tendo motivo de grandes queixas. Eu sempre fui presenteada com bons papéis, eu digo presenteada porque eu estive poucas vezes na posição de produtora e, quando eu estive como produtora, foi em situação privilegiada, produzindo junto com amigos, com Miguel (Falabella), com Sandro Chaim, porque essa parte braçal, a demanda mesmo da produção, eles me poupavam. 
- Então você ainda tem sonhos, desejos na carreira que você quer realizar?
Arlete SallesAh, sonho e desejo a gente sempre terá, até o fim. E não só desejos profissionais, mas na vida pessoal também. Tem uma fala na peça do Miguel (Falabella), essa célebre peça "A Partilha", da personagem que eu interpretei… A personagem que mais tempo eu convivi, a personagem que eu tenho mais intimidade, acho que nunca terei tanta intimidade como eu tive com essa personagem. Foi um trabalho longevo, foi um trabalho modificador, eu digo modificador, porque ele veio trazendo mudanças em todos os seguimentos da vida de um ator, trouxe sucesso, trouxe dinheiro…
- Foi um marco?
Arlete SallesFoi um marco. A gente nunca teve um resultado financeiro tão grande. O próprio Miguel, que hoje em dia é um homem que está bem na vida por total merecimento, na época ainda tinha dificuldades, não era um homem estável financeiramente. E a partir dali foi o "start" na carreira dele. Para a gente foi muito importante, eu pude ficar segura financeiramente, me deu segurança para negociar os meus contratos, segurança que eu não perdi mais. Foi um trabalho importante em todos os sentidos para mim e para todas que participaram desse projeto. Então, a minha personagem nesse espetáculo já é uma mulher de meia idade, ela se separou, casou de novo, ela acha que quando a pessoa não está feliz, ela tem que tentar de novo embora que para a mulher com o passar dos anos isso se torne mais difícil, e ela diz "embora que a gente continue a sonhar que vai haver outra vez, sempre". Então esse sonho pessoal e profissional sempre vai existir. Esse "dó de peito", que eu acho que ainda não dei, talvez não seja essa a opinião do público, esse grande desafio que "A Partilha" foi num momento, eu preciso dele, para que eu possa dizer "pronto". Mas será que a gente vai se sentir pronto em algum momento? "Pronto, a partir daqui eu já fiz tudo"? Essa é uma pergunta que ficará no ar.
Atrizes de 'A Partilha' com Miguel Falabella. Foto: Divulgação
- Falando sobre o ofício em geral, qual é a função do ator na sociedade? Pra quê serve um ator?
Arlete SallesPrimeiro ele quer se expressar, ele quer exercer um ofício de sua escolha. Isso começa, evidentemente, na juventude. A partir daí ele vai tomando consciência de que com esse instrumento ele pode ajudar a sociedade. Ajudar a sociedade iluminando, indicando, não de uma maneira didática, mas divertindo, distensionando o público, tratando no palco de sentimentos inerentes ao ser humano para que o público pense e diga "então essa dor não é só minha", mesmo que não indique o caminho, a saída, mas que pelo menos crie uma identificação para que a pessoa não se sinta… 
Arlete Salles, em 'Fina Estampa'. Foto: Divulgação- Um isolado?
Arlete SallesUm isolado, um foragido com os seus sentimentos. Quando a gente está no palco, quando a gente faz um trabalho que o público se identifica, quando o público vai para casa refletindo, revendo aspectos de sua vida, dando para ele algum instrumento para ele se melhorar ou melhorar alguém, quando um ator consegue isso com seu trabalho e ainda diverte, aí o teatro cumpriu o seu papel de forma plena e indiscutível.
- O ator só existe com um papel?
Arlete SallesComo ele pode existir sem um personagem? Ficaria um ator à procura de um personagem, parafraseando Pirandello? Eu acho que o personagem é como o pincel e a tinta para o pintor, como a argila para o escultor, o nosso material é o personagem. E quanto melhor o personagem, mais material você tem para criar. Claro que você pode num ponto daquele medíocre personagem, que você se identifica, você pode tirar uma fagulha que transforma aquele personagenzinho numa coisa fulgurante, isso até pode ocorrer. É mais comum de acontecer no palco, em novela o autor tem que vir com você, tem que investir em você, na teledramatugia um personagem tem que ter espaço, se não não adianta nem ficar nu para chamar atenção que na edição eles vão cortar. 
- Hoje em dia há uma nova geração de atores formados para o vídeo. Você acha que essa formação, específica para o vídeo, muda a ética do ator? Ou modifica a qualidade do trabalho do ator?
Arlete SallesIsso é tão variável, né? Depende. Uma menina pode fazer um "Big Brother" e pode se revelar uma atriz, pode descobrir dentro dela talento, vocação. Mas a escola, a técnica… Eu fui me formando aos poucos. Eu comecei como se começava no meu tempo. "No meu tempo"… O meu tempo é agora que eu estou aqui. Quando eu comecei, a gente começava com pequenos personagens e ali a gente ia observando os outros atores, ia evoluindo, o próprio trabalho ia dando entendimento da profissão. Mas eu sou a favor do estudo. Eu senti muita falta, fez muita falta ao meu trabalho a técnica aliada ao talento.
- Uma formação acadêmica também?
Arlete SallesTambém. Conhecimento e entendimento intelectual com o talento, a vocação, o saber por que escolheu a sua profissão é uma questão de honestidade com você e com o público. Mas é a escola de teatro que dá isso. Se não leva muito tempo para aprender, você vai sempre se sentir defasado, inseguro. 
- Essa seria uma maneira de um ator se destacar? Porque no Rio de Janeiro, por exemplo, há, numa estimativa aproximada, 50 mil atores profissionais onde somente 2 mil são contratados ou trabalham com alguma regularidade. Ou seja, são 96% de atores desempregados só no Rio. O que o ator precisa para se destacar?
Arlete Salles em 'Sem lenço e sem documento' (1977/1978). Foto: DivulgaçãoArlete SallesSorte e carisma. Se ele já tem a formação, ele tem talento, o olhar dele para a profissão é sério, só falta sorte e carisma. E garra, né? Graças a Deus eu cheguei na profissão sem que ela fosse o sonho de todas as famílias, hoje em dia… Na minha época, as famílias ficavam muito preocupadas quando o filho mostrava interesse em entrar para o teatro. Hoje em dia os próprios pais levam os filhos. E o desejo de toda família é que o filho se torne famoso. O famoso é que é o problema, querem que o filho seja famoso, não um maravilhoso ator. E onde é que a fama chega mais rápido? Através da televisão, mas não é de qualquer empresa de televisão, é através da "Rede Globo". A "Globo" está super povoada, a procura é grande, daí talvez esse número enorme de atores desempregados. Agora, quando eu vejo um jovem procurando o teatro, estudando, formando grupos e indo atrás do sonho dele, eu fico tão emocionada, é tão bonito, tão merecedor. E uma hora ele vai alcançar o objetivo dele.
- Você já disse em outras entrevistas que ficou conhecida como comediante.
Arlete SallesFoi, foi uma coisa que partiu de mim inconscientemente. Foi acontecendo, um personagem de comédia ali, um personagem engraçado depois e quando eu vi eu estava entre os comediantes com muito orgulho. As outras atrizes eram elogiadas pelos seus trabalhos e para os meus personagens sempre havia um silêncio. Eu ficava ressentida, mas eu não me apego a ressentimentos. Eu logo me libertei desse sentimento. Mas eu perguntava "por que que eles não dão valor à comédia"? Isso acontece no mundo, não é só no Brasil não. E quais são as duas máscaras do teatro? O drama, a tragédia, e a comédia. Só que a comédia é o gênero mais difícil. Por que que os intelectuais do teatro, a grande inteligência, não reconhecem isso?
- Por quê?
Arlete Salles em 'Toma lá dá cá'. Foto: DivulgaçãoArlete SallesPorque o drama é muito mais fácil. O drama tem o tempo do ator, ele dá o tempo que ele quiser, o tempo do sentimento dele. Mas a comédia é matemática, ela tem o tempo dela. E só se torna um grande comediante quando se tem esse "feeling". 
- Se aprende a fazer comédia?
Arlete SallesÉ como música, como o tempo da música. Pode-se aprender e se sentir. É no sentimento, é na pulsação, é no tempo dela. E tem que ser feito com verdade. A comédia é tão verdadeira quanto o drama. É só um outro olhar. 
- Você acha que é mais fácil ser ator atualmente? Ou cada época tem a sua dificuldade?
Arlete SallesCada tempo tem a sua dificuldade própria. Mas poucos atores, tempos atrás, tinham uma posição confortável financeiramente ou um status na sociedade como se tem hoje em dia. Pouquíssimos. Era uma classe que lutava com muita dificuldade, muitos tinham que ter um emprego paralelo, era muito comum um ator ser funcionário público. Acho que houve um grande ganho, através da televisão. E do cinema, que cresceu muito, hoje vive um momento muito rico prestigiado pelo público. Eu acho que existe esse grande número de atores desempregados, muito por causa desse fenômeno das famílias, que não só aceitam, mas querem, desejam, que os filhos tenham uma profissão de prestígio nacional, de sucesso, que dê dinheiro, e o caminho mais fácil é através da televisão, como nós falamos. O campo está muito maior, houve um progresso, o ator conquistou uma posição, eles foram dignificados. Quando um ator dizia que tinha ido aos Estados Unidos, a gente ficava estarrecido de admiração, hoje em dia é a coisa mais comum. Antes se tinha as grandes estrelas que conseguiam alcançar esse lugar por uma luz, por sorte, então era "Eva e seus artistas", "fulano e seus artistas". Esses "seus artistas" tinham muita dificuldade de ter o seu nome reconhecido e dar o seu "dó de peito".
- Como é a sua prática? Quando você pega um texto, como o trabalha? Você já disse em outras entrevistas que corre. Qual é o seu método?
Arlete Salles. Foto: DivulgaçãoArlete SallesEu não tenho método. Pela falta de formação mesmo. Cada trabalho vem com um tipo de necessidade para mim. Por exemplo, eu vivi um grande desafio no teatro, apesar de ter dito que ainda não dei o meu "dó de peito", eu posso considerar o "Hairspray" um. Eu tive que cantar e dançar sem preparo técnico nenhum, eu enfrentei isso. Foi um grande desafio. Exigiu de mim outra preparação, outros estudos. Mas de um modo geral, eu faço o "dever de casa" que todo ator deve fazer. Eu estudo o texto, eu quero saber quem é o personagem, da onde ele vem, seus conflitos, sua idade, sua classe social, e a partir daí eu procuro trazer ele para mim, confrontando o personagem com os meus sentimentos. Como eu ficaria naquela situação? Como eu reagiria? Eu trago para o meu sentimento, que é a única forma do ator comunicar, trazendo o personagem para dentro dele, juntando os sentimentos do personagens com os seus. Daí você encontra a verdade da personagem. Se eu trabalho o personagem com profundidade, ele vem inteiro para a superfície. Senão fica na mentirinha e eu vejo muitos atores trabalhando assim na comédia, no superficial. A última coisa que eu faço, depois de tudo isso, eu gosto de distensionar. Para não colocar a personagem em formas, em uma estrutura, para não aprisioná-lo. Distensiono fisicamente, do físico ele introjeta. Eu fico correndo falando o texto, falo o texto, enquanto faço pequenas ações cotidianas, fazendo tarefas domésticas, para não endurecer, para não fechar. Para mim, é ainda melhor fazer na esteira, mas se eu não tenho uma esteira, eu corro. Dizendo o texto na respiração. Porque a respiração é fundamental, como é para o canto. Eu demorei para descobrir isso. Mas quando eu descobri, foi um salto. Esse arremate final traz descobertas maravilhosas. É o tratamento final. Pronto, eu estou entregando para vocês os meus truques (risos).
- Pra finalizar, você está com algum trabalho? Algum projeto em vista?
Arlete SallesEu estou com um trabalho em vista, um projeto maravilhoso, a realização de um sonho. Mas eu ainda não posso falar, gostaria, mas eu devo estar estreando na primeira quinzena de janeiro. Daqui a pouquinho, eu vou poder falar. Acabei de fazer um filme, "Até que a sorte nos separe 2", gravei em Las Vegas. Tem um outro filme que eu ainda não sei se vai dar para gravar esse ano, seria agora em outubro, uma produção franco-brasileira sobre a vida do Carlos Gomes, uma personagem bacana. Acho que por esse ano é só. Tenho um contrato com a "Rede Globo" e estou aguardando uma convocação para um novo trabalho que traga alegrias para o meu coração, para o público e para a empresa.
- Foi ótimo. Muito obrigado.

Fonte: SRZD