quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Descobri o salto alto aos 60 - 2001

Desde que "Porto dos Milagres" estreou na Globo, o brilho de Arlete Salles – como a ambiciosa Augusta Eugênia – se destaca. Não só pelo talento, reconhecido, mas pela silhueta. Enquanto delicia o público com a personagem, chama atenção pela boa forma física. Pernambucana de Pau D’Alho, a atriz, que era locutora de rádio em Recife, vive uma das melhores fases. Além da tevê, faz sucesso em "A Vida Passa", peça escrita por Miguel Falabella. Nessa rotina, só abre mão de caminhar na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, quando as gravações aceleram. Mas recorre à esteira na casa de três andares no Jardim Botânico onde mora com a mãe, Severina, um dos filhos e as cadelas Kika e Xará. Sempre sorridente, ela vibra com suas descobertas após completar 60 anos – data que não revela. Há um ano, a dança de salão a livrou do bloqueio para dançar. Descobriu ainda o salto alto. Mãe de Alexandre, 38 anos, e Gilberto, 35, avó de Pedro, 14, e Joana, 4, Arlete recebeu Gente usando sandálias altas, vermelhas e com strass.


Além de elogios ao trabalho, sua forma fisica chama atenção na novela. O que tem feito?
Na época de Meu Bem Querer, em 1998, emagreci sete quilos e mantenho o peso até hoje. Sou vaidosa, gosto de estar bem com o meu corpo. Adoro vestir uma roupa e me sentir bem. Sinto mais vigor e segurança. Depois da dieta aprendi a comer pouco, mas não gosto da ditadura de saladas e grelhados. Só me submeti a isso quando queria perder peso. Adoro tomar um bom café da manhã com pão integral, queijo de minas, mas nem pensar em ovos fritos com bacon. Adoro sorvete e bolo, mas como com cautela. Faço caminhadas diárias. Quando isso não é possível, faço esteira em casa. Já fui a academias, mas de uns anos para cá fiquei mais arredia, gosto de ficar sozinha.



Por quê?
Depois dos 40 anos passei por um processo de mudança. Inconscientemente, promovi uma revolução em mim. Era uma mulher noturna e fiquei uma mulher diurna. É uma idade delicada, assim como os 60, que é marcante. Aos 40 você percebe que não é mais jovem e começa a questionar como viver dali por diante. É difícil. É o momento da parada, da reflexão. Às vezes é doído. Fui ficando introspectiva. Sempre fui expansiva, barulhenta. Fiquei mais silenciosa, recolhida. 



Mas você entrou em crise?
Teve uma hora em que pensei: “Não tenho mais juventude”. Depois descobri que não tinha juventude mas tinha mocidade, que havia muita coisa para ser vivida. Aí encontrei o equilíbrio.

E a chegada dos 60?
Outro dia comecei a fazer dança de salão. Ia fazer uma peça e precisava dançar um tango. Nunca havia dançado nada na vida. Casei grávida aos 16 anos, os Beatles espocando e eu olhando da janela porque já tinha um bebê para cuidar. Tinha o maior bloqueio quando chegava a uma festa. Hoje danço bolero e vou começar a aprender a salsa. A dança me tornou mais feminina, segura. Foi uma grande descoberta aos 60 anos.



Mas houve crise como nos 40?
Trabalhava muito. De vez em quando o coração disparava quando lembrava que ia fazer 60 anos. Mas sou geminiana, não consigo ficar presa a um só sentimento por muitas horas. Eu pensava: “Vou envelhecer, sim, não é agradável esta idéia, mas ainda estou moça, ainda posso realizar projetos e promover mudanças”.



Que tipo de mudanças?
Eu era uma mulher que só andava de sapatos fechados e meias. Um dia resolvi mudar. Resolvi usar sandálias e ver como que ficava. Só andava de salto baixo e quando botava um salto alto andava feio. Decidi corrigir isto, queria caminhar de salto alto. É feminino, bonito. Acho que até por isso só me escalavam para fazer mulheres do povo, desglamourizadas. Percebi que havia algo errado e que partia de mim. Gosto desses personagens sim, sou grata a eles mas também quero fazer outro gênero.



E como você mudou isso?
Quando comecei os ensaios de A Vida Passa decidi que só ensaiaria de saltos. No início fiquei cansada, os pés e as pernas doíam. Eu dizia: “Ou morro ou aprendo a andar de salto”. Quando estreou a peça eu deslizava no palco. A essa altura da vida essas descobertas que parecem simples, são maravilhosas. De repente houve um movimento e quando vi estava lá com saltos.



Mas mudou seu estilo de vestir?
Não. Sempre gostei de roupas sensuais. Adoro sedas, não gosto de algodão. Gosto de decotes, de roupas coladas. Não tenho preocupação com o tamanho da saia e de não usar mais decotes. Tirando o lacinho no cabelo, o resto é permitido. O lacinho é que não fica bem.



Você é vaidosa?
Gosto de me cuidar. Não sou nenhuma perua maluca que sai cedo de batom e de strass. Mas gosto de roupa bonita. Agora estou na fase das sandálias, compro todas as que encontro. Os meus pés não são uma beleza mas gosto de mostrá-los. Adoro banho e perfumes. Prefiro estar com uma roupa discreta, de rosto lavado, cabelo bem tratado e um bom perfume. Perfume é uma mania, sempre gasto mais do que devia. Maquiagem não gosto, tenho preguiça. Isso me faz ficar em casa. Não gosto dos sacrifícios enormes em nome da beleza.



Está casada?
Não estou solteira e não estou casada e é só.



Mas se casaria de novo?
Claro. Gosto do casamento como forma de vida, exigência da paixão.



É possessiva?
Não, não gosto de ter uma pessoa ao meu lado porque estou no controle. Isso atinge a minha dignidade, me deixa mal. Quero uma pessoa ao meu lado porque está me amando e não porque não pode sair do meu lado porque eu seria capaz de ter um piti.



Namoraria homens bem mais jovens?
Sem dúvida. Até porque sou jovial, não me vejo namorando uma pessoa mais velha. Talvez da minha idade. Não gosto de pessoas que venham com ranços, com hábitos, com limitações. Não combina comigo. Isso era um jogo cultural contra a mulher, mas que está mudando. Namoraria sim, desde que não fosse um jovem vazio.



Considera-se transgressora?
Talvez para os padrões tradicionais eu tenha sido uma mulher transgressora em alguns momentos. Tenho um pé na transgressão, não gosto das coisas muito certinhas, principalmente no campo afetivo. Sempre acabo contrariando as convenções. Nunca achei que devesse me privar do que estava sentindo porque não estava dentro dos padrões. Isso só fazia com que eu me rebelasse e fosse até o fim. A transgressão é fascinante.



Você foi muito namoradeira?
Não. Eu me casei duas vezes e tive mais umas duas paixões. Namorei e namoro na minha cota certa. Meus amigos ficam inconformados com o fato de eu não estar namorando. Mas não me sinto sozinha. Moro com o minha mãe e meu filho. Estudo, faço aulas de inglês, aulas de dança. Não gosto de ficar parada, me sinto desperdiçando tempo e vida.



Tem medo de envelhecer?
Muito. A questão da estética, que me aterrorizava, já está superada. Aquela coisa da ruga, do cabelo branco, de não enxergar direito. Tenho lentes de contato, mas não consigo usar. Vou para as festas de longo e de óculos e não estou nem aí. A velhice me apavora tanto quanto a morte pela limitação física que ela impõe.



Como superou os primeiros sinais do envelhecimento?
Estou envelhecendo bem. Logo depois dos 40 anos, foi um baque. Eu me desajustei, tive que fazer terapia, foi doído. Tive a síndrome do pânico. Tudo que me mobilizava era o fato de que eu não era mais jovem. 



Como superou a síndrome do pânico?
Consegui manter todas as minhas atividades, consegui esconder e segurar bastante. Com o tratamento consegui vencer o pânico rapidamente. O pânico é uma outra face da depressão e quando se tem um bom terapeuta se supera a doença rápido.

Tem culpas como mãe?
Tive falhas. Fui mãe muito jovem e sempre trabalhei. Fiquei muito ausente mas eles me dizem que foram felizes assim. Tenho dificuldade de impor limites. Quando amo uma pessoa, ela pode tudo. Meus filhos sempre puderam tudo. Fui muito permissiva. Talvez tivesse sido necessário um pouco mais de firmeza, de não e sim na hora certa. Teve amor mas a educação ficou a desejar.



Fonte: ISTOÉ Gente

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