sábado, 19 de junho de 2010

Entrevista - Riso harmonioso - 2005


A vida de Arlete Salles é pródiga em números. Aos 63 anos, essa pernambucana de Pau D’Alho já fez 27 novelas, três minisséries, mais de 15 personagens em especiais e 13 peças de teatro. No cinema - onde estreou em 1963, junto com o ator Lúcio Mauro, no drama “Terra Sem Deus” -, deve aparecer em três filmes ainda este ano, entre eles o badalado “O Mistério de Irma Vap”. O mais curioso é que, mesmo cercada destes registros, Arlete jamais parou para fazer as contas de sua profissão. “Sinto falta de não ter me dedicado mais a isso. Acho que é uma falta de zelo. Tinha que saber com um psicólogo o porquê desse desapego”, assume a atriz, que no momento contabiliza a boa repercussão de seu trabalho na tevê como a romântica e determinada Ademilde de “A Lua Me Disse”. “A comédia é imprescindível. Me dá leveza, alegria e me proporciona encontrar a criança que mora em mim”, teoriza.


Divertida e boa de papo, Arlete recorre a citações de pensadores universais para falar sobre a própria vida e adora discorrer sobre a personagem com riqueza de detalhes, como se ela existisse além de sua interpretação. “Me identifico muito com essa garra que ela tem. É uma mulher disposta, corajosa, generosa”, enumera. Com tamanha identificação, não é difícil saber porque Arlete aceitou de pronto fazer a comerciante que tanto sonha com um amor para a vida toda. Aliada às características de Ademilde, está a amizade que mantém com Miguel Falabella, que chega a escutar a voz de Arlete na boca da personagem quando está escrevendo suas cenas. “Ele traz um frescor para a minha carreira, aposta no meu trabalho. É uma felicidade para mim como seria para qualquer atriz”, derrama-se Arlete.


Para a atriz, Ademilde foi acolhida pelo público por causa de sua força, mas também por um sentimento mais nobre e mais próximo do universo feminino. “Existe uma linha tênue que a liga a todas as outras mulheres, que é a busca de um amor verdadeiro. Mesmo que a gente não saia procurando, lá dentro, bem no fundo, existe esse desejo”, argumenta. No caso da próspera proprietária do restaurante “Frango Com Tudo Dentro”, a busca é desenfreada. Ela não se cansa de cruzar com príncipes encantados que não passam de sapos do brejo.


O mundo de fantasia de Ademilde reside no computador, mais precisamente na Internet, utilizada com freqüência para levá-la a conhecer homens dos mais variados tipos. Essa espécie de “universo paralelo” fez Arlete se surpreender com a carência das pessoas. “Me faz pensar no quanto a solidão é grande por aí, quantas fantasias soltas na noite. Quanto idealismo!”, espanta-se. Até conhecer Ademilde, Arlete jamais havia parado na frente de uma tela de computador. Sentiu-se ultrapassada e tomou uma resolução. “Um dos meus projetos é me informatizar, comprar meu aparelho. Se você se declarar um não internauta vai ser um bicho de outro mundo, um jurássico”, resigna-se.


Apesar de encontrar em Ademilde muito de sua própria personalidade, Arlete torce para o dia em que a personagem deixar de ser ressentida com o passado. “É nisso que a gente se distancia. Eu procuro me libertar de qualquer mágoa, de amores infelizes, não fico parada relembrando o passado, eu acredito muito no futuro”, afirma a atriz. E é justamente esse futuro que tanto povoa os pensamentos de Arlete. O fato de esbanjar jovialidade não impede a atriz de preocupar-se com os anos que virão. “Não me diga que envelhecer é bom. Me questiono se vou ser uma velhinha saudável, se vou ter a mesma disposição para me alegrar com as coisas bonitas da vida. É isso que eu quero”, planeja. Também espera trabalhar até o último minuto. Mas tudo pode mudar. “Quem sabe não fique muito rica e viaje pelo mundo vendo belos espetáculos?”, deixa no ar, com um sorriso maroto de quem sabe não estar falando sério demais.



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